... com certeza, lenitivo para as aflições que essas notícias sinistras trazem ao nosso coração ! Por essa razão é que sempre afirmo : a partir do nosso quotidiano é que surge uma nova humanidade . Hoje cumpri minha sina diária de ler o jornal ... mas que surpresa : entre as notícias medonhas encontrei o bom humor fantástico do Renato Maurício Prado que em sua coluna publicou essa deliciosa crônica esportiva :
Entrega ou não ?
01/12/2015 10:00 por Renato Maurício Prado publicado em O Globo
Os dois amigos tricolores se encontraram na rua. Não se viam há muito tempo e, após as tradicionais perguntas sobre as respectivas famílias, o papo chegou ao inevitável: o jogo do Fluminense contra o Figueirense, no qual uma derrota da equipe das Laranjeiras, automaticamente, rebaixará o Vasco para a segunda divisão – caminho espinhoso que, neste caso, seria trilhado pela terceira vez, em oito anos, pelo Gigante da Colina.
Ambos eram fanáticos pelo Flu, homens de bem e esportistas de corpo e alma. Daí uma certa dificuldade em admitir práticas que o Barão de Coubertin reprovaria com veemência. Mas debater o assunto do momento era obrigatório:
- O problema é o cara do lado de lá, né? Ele fez de tudo para prejudicar o Fluminense esse ano. Isso sem falar nas armações com a Federação, que praticamente lhe deu de presente o título estadual, que não ganhava há um século... Lembra da suspensão do Fred? – argumentou o primeiro.
- Pois é. Mas o nosso clube sempre se destacou pela fidalguia e pelo respeito às leis do esporte. Vamos manchar nossa história com uma coisa dessas? – contestou o outro.
Os dois coçaram a cabeça e o mais velho retomou a palavra:
- Na verdade, devemos a ele um não rebaixamento: aquele de 1996, quando o Álvaro Barcellos até comemorou estourando champanhe nas Laranjeiras, está lembrado? O cara virou a mesa e nisso ele é bom. E nós escapamos...
- Pôxa, tinha que recordar isso? Daqui a pouco você vai dizer também que o malandro nos ajudou na subida direto da terceira para a primeira e no caso da Portuguesa...
Acabaram os dois às gargalhadas, mas ainda sem chegar a um veredicto:
- E aí, entrega ou não?
- E se propusermos uma compensação? A gente ganha do Figueirense e ele para de nos encher o saco com o lado direito das tribunas, no Maracanã.
- Vai que a gente perde, na bola mesmo, como é que fica? Temos que devolver o lado pra eles? Além do que, a gente conhece a figura. Vende a mãe e não entrega. Melhor não negociar nada...
Persistia a dúvida, até que chegou o Bagá. Conhecido de ambos, o gigante rubro-negro aproximou-se com a intimidade daqueles que não tem “desconfiômetro” e foi logo sapecando:
- O Fluzão vai rebaixar o Vasquinho, né? – cobrou.
Os tricolores se entreolharam e admitiram o impasse:
- Estávamos aqui discutindo exatamente isso. Vontade não falta, mas e o espírito esportivo?
O colosso de ébano coçou a carapinha, ergueu os olhos injetados pro céu, com ar de “pai, perdoai porque eles não sabem o que dizem” e fuzilou, sem dó nem piedade:
- A coisa é muito simples: imaginem a situação inversa. O Flu dependendo de uma vitória do Vasco, para escapar da Segundona. O que vocês acham que o sujeito faria?
Bagá lançou a cizânia no ar e se mandou, às gargalhadas, balouçando a pança. Diante da questão levantada pelo ciclope, os tricolores se entreolharam e resolveram concluir a discussão:
- Não podemos, entregar, não! Mas podemos escalar um misto de reservas e sub-20...
- Ou improvisar: Marco Júnior no gol, afinal, devemos nos preparar para situações inesperadas durante um jogo; Cavalieri na linha, pois ele precisa aprender a usar os pés, como vimos naquela decisão por pênaltis; Magno Alves de zagueiro central...
Na hora da despedida, um abraço fraterno e uma profecia bem tricolor:
- Eles não vão nem ganhar do Coritiba. Essa polêmica é perda de tempo. Foi bom te ver.
- Também adorei e acho que eles não ganham, mesmo. Mas...
E saíram, cada um pro seu lado, ambos sorrindo.
E você, se fosse dirigente do Flu, entregaria ou não?
Com a alma lavada deixei de lado o jornal ... e pensei em vcs que podem não ter lido essa gostosa crônica , então : bom proveito , e até mais qualquer dia desses !
Entrega ou não ?
01/12/2015 10:00 por Renato Maurício Prado publicado em O Globo
Os dois amigos tricolores se encontraram na rua. Não se viam há muito tempo e, após as tradicionais perguntas sobre as respectivas famílias, o papo chegou ao inevitável: o jogo do Fluminense contra o Figueirense, no qual uma derrota da equipe das Laranjeiras, automaticamente, rebaixará o Vasco para a segunda divisão – caminho espinhoso que, neste caso, seria trilhado pela terceira vez, em oito anos, pelo Gigante da Colina.
Ambos eram fanáticos pelo Flu, homens de bem e esportistas de corpo e alma. Daí uma certa dificuldade em admitir práticas que o Barão de Coubertin reprovaria com veemência. Mas debater o assunto do momento era obrigatório:
- O problema é o cara do lado de lá, né? Ele fez de tudo para prejudicar o Fluminense esse ano. Isso sem falar nas armações com a Federação, que praticamente lhe deu de presente o título estadual, que não ganhava há um século... Lembra da suspensão do Fred? – argumentou o primeiro.
- Pois é. Mas o nosso clube sempre se destacou pela fidalguia e pelo respeito às leis do esporte. Vamos manchar nossa história com uma coisa dessas? – contestou o outro.
Os dois coçaram a cabeça e o mais velho retomou a palavra:
- Na verdade, devemos a ele um não rebaixamento: aquele de 1996, quando o Álvaro Barcellos até comemorou estourando champanhe nas Laranjeiras, está lembrado? O cara virou a mesa e nisso ele é bom. E nós escapamos...
- Pôxa, tinha que recordar isso? Daqui a pouco você vai dizer também que o malandro nos ajudou na subida direto da terceira para a primeira e no caso da Portuguesa...
Acabaram os dois às gargalhadas, mas ainda sem chegar a um veredicto:
- E aí, entrega ou não?
- E se propusermos uma compensação? A gente ganha do Figueirense e ele para de nos encher o saco com o lado direito das tribunas, no Maracanã.
- Vai que a gente perde, na bola mesmo, como é que fica? Temos que devolver o lado pra eles? Além do que, a gente conhece a figura. Vende a mãe e não entrega. Melhor não negociar nada...
Persistia a dúvida, até que chegou o Bagá. Conhecido de ambos, o gigante rubro-negro aproximou-se com a intimidade daqueles que não tem “desconfiômetro” e foi logo sapecando:
- O Fluzão vai rebaixar o Vasquinho, né? – cobrou.
Os tricolores se entreolharam e admitiram o impasse:
- Estávamos aqui discutindo exatamente isso. Vontade não falta, mas e o espírito esportivo?
O colosso de ébano coçou a carapinha, ergueu os olhos injetados pro céu, com ar de “pai, perdoai porque eles não sabem o que dizem” e fuzilou, sem dó nem piedade:
- A coisa é muito simples: imaginem a situação inversa. O Flu dependendo de uma vitória do Vasco, para escapar da Segundona. O que vocês acham que o sujeito faria?
Bagá lançou a cizânia no ar e se mandou, às gargalhadas, balouçando a pança. Diante da questão levantada pelo ciclope, os tricolores se entreolharam e resolveram concluir a discussão:
- Não podemos, entregar, não! Mas podemos escalar um misto de reservas e sub-20...
- Ou improvisar: Marco Júnior no gol, afinal, devemos nos preparar para situações inesperadas durante um jogo; Cavalieri na linha, pois ele precisa aprender a usar os pés, como vimos naquela decisão por pênaltis; Magno Alves de zagueiro central...
Na hora da despedida, um abraço fraterno e uma profecia bem tricolor:
- Eles não vão nem ganhar do Coritiba. Essa polêmica é perda de tempo. Foi bom te ver.
- Também adorei e acho que eles não ganham, mesmo. Mas...
E saíram, cada um pro seu lado, ambos sorrindo.
E você, se fosse dirigente do Flu, entregaria ou não?
Com a alma lavada deixei de lado o jornal ... e pensei em vcs que podem não ter lido essa gostosa crônica , então : bom proveito , e até mais qualquer dia desses !