quarta-feira, 4 de maio de 2016

Trago esta opinião divergente à consideração ...

... dos Amigos porque impacta na tranquilidade do nosso quotidiano tão importante para o progresso da humanidade .É a partir do nosso quotidiano que surge uma nova humanidade .A divergência é sempre saudável e neste caso quem diverge pelo menos em parte tem competência de sobra para faze-lo .Meu colega calculista de estruturas  Ubirajara Ferreira da Silva tem uma visão pessoal do problema que não deve ser ignorada pelo poder público tão ávido por votos que bem pode não admitir seu erro .Mas , em primeiro publico uma opinião que saiu no jornal e que está alinhada com a opinião corrente : 
O que se está pensando sobre o assunto : Peritos dizem que ciclovia desabou porque pista não estava amarrada Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/rio/peritos-dizem-que-ciclovia-desabou-porque-pista-nao-estava-amarrada-

O que diz o Ubirajara : 

Ciclovia Rio-2016,

Como engenheiro do DNER, tendo trabalhado por muitos anos no Serviço de Obras de Arte, achei oportuno, como fizeram alguns colegas, manifestar-me, analisando e fazendo comentários pertinentes ao acidente na ciclovia Rio-2016. Formularei minhas observações e comentários com base no contido na imprensa, na minha experiência profissional e nas minhas idas e vindas pela linda Avenida Niemeyer.
Quanto ao desabamento dos dois vãos da obra, recentemente construída e liberada ao público de pedestres e ciclistas, além de ocasionar a morte de dois frequentadores, um deles engenheiro, deixou a sociedade carioca e a engenharia estrutural brasileira abaladas.
Tal acontecimento, de enorme repercussão também no Brasil, tem sido atribuído por alguns, acertadamente, como causa principal, o impacto de uma violenta onda do mar. Este fenômeno da natureza, sempre ocorreu na Avenida Niemeyer, já é bem conhecido por muitos.
Inexplicavelmente, tal fenômeno passou desapercebido pelos técnicos envolvidos no projeto da ciclovia, muito embora sendo um dos dados importantes a serem considerados. Também passou desapercebido por todos, a obra existente executada há 100 anos no mesmo local do acidente. É composta por uma maciça estrutura de contensão, com a finalidade de manter a segurança do tráfego da via e ao mesmo tempo, servir como dispositivo amortecedor e dissipador de energia destruidora das ondas marinhas.
Outra questão importante, também não considerada, é a existência visível de tubulações de água da CEDAE, já bastante oxidadas e indevidamente localizadas ao longo da borda da linda Avenida Niemeyer, ao que se presume, permitida pelo IPHAN, sem contemplar o partido ambiental da localização.
Neste delicado momento, pode-se afirmar que os reais motivos do acidente, foram os erros e omissões cometidos pela Prefeitura, iniciados desde o preparo do projeto básico e das especificações técnicas.
Elaborado o projeto básico constante do Edital de Licitação, foi disponibilizado às empresas vencedoras da licitação para desenvolverem os cálculos e detalhamento do projeto executivo.
 Apresentado o projeto à Prefeitura, caberia aos seus técnicos procederem uma ampla revisão completa do mesmo, analisando todas as hipóteses dos cálculos estruturais, cotejando-os simultaneamente com os desenhos das formas, das armaduras resistentes, das especificações, tudo conforme recomendações das Normas Técnicas Brasileiras vigentes. Pelo que se tem conhecimento, o mesmo foi aceito e aprovado sem restrições.
Por informações de colegas, o projeto básico, incompleto, não contemplava informações necessárias para confecção do projeto executivo.
Segundo o Manual do DNIT/IPR, a largura de faixa recomendada para uma ciclovia com dois sentidos é de 3,00 m. Não constando indicação sobre ciclovias com circulação simultânea de pedestres e bicicletas. Portanto, pode-se concluir que a ciclovia da Avenida Niemeyer, não atendia as prescrições técnicas desejáveis ao bom desempenho dos usuários.
Sobre o acidente, tenho visto alguns técnicos entrevistados dizerem categoricamente que, se os tabuleiros tivessem sidos ancorados nos pilares de apoio, os mesmos não teriam caído. Posso afirmar que os referidos tabuleiros, mesmo ancorados, teriam caído e, certamente levariam consigo parte de alguns vãos adjacentes, devido ao tombamento de pilares, aumentando assim a catástrofe.
Tenho acompanhado e constatado que nesses últimos 25 anos, têm surgido problemas inerentes à engenharia estrutural em nosso País, tanto envolvendo contratos, como inadequadas concepções de projeto de pontes, viadutos, passarelas e recentemente em ciclovias. Na sua maioria estão sendo detectadas falhas nos cálculos estruturais, nos detalhes construtivos e anomalias de elevado grau de insegurança.
Nessa linha, posso atribuir como básico, a falta ou carência de experiência profissional de professores, de jovens engenheiros ainda não devidamente capacitados na prática de projetos estruturais. Também posso atribuir a criação de várias escolas de engenharia no Brasil, a maior parte delas sem condições de pleno funcionamento técnico, face a carência de professores e condições financeiras adequadas. Portanto têm surgido, com frequência, inadequadas condições no âmbito técnico estrutural, no executivo, no econômico e no arquitetônico.
Para melhor entendimento do acidente ocorrido na ciclovia, listo alguns pontos não considerados no projeto básico:
.. A existência de tubulações de água da CEDAE, já bastante oxidadas localizadas ao longo da borda do mar, trazendo perigo de vazamento de água das tubulações sobre o tabuleiro da ciclovia;
.. Nos desenhos do projeto básico, não constavam as medidas dos vãos e a largura das faixas de circulação dos pedestres e ciclistas, segundo as normas técnicas;
.. A utilização de guarda corpos metálicos fixados por parafusos em ambiente marinho fortemente corrosivo. O que não é indicado nem duradouro;
.. A existência e a influência da obra de contensão executada na avenida Niemeyer por volta de 1920
.. A reconstrução do mesmo tipo de tabuleiro não resolve o problema, quanto à segurança a impacto de ondas marinhas.
Por isso tudo e não encontrando um meio adequado para solucionar os problemas listados, sou levado a sugerir à Prefeitura promover a remoção completa do que resta da ciclovia e que a nossa Avenida Niemeyer volte a ser linda e contemplada por todos.
Ubirajara Ferreira da Silva

Engenheiro civil
Bom proveito , e até mais !

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